Era 8 de Outubro, o cheiro do almoço já tomava conta da casa e Ele ainda abria os olhos, com muita dificuldade e esticava os braços tentando espantar todo aquele sono. A noite tinha sido agitada, não por festas, mas por pensamentos. Aquele seria um dos melhores dias do ano e ele esperava por isso, afinal, seria a terceira vez que ele veria Ana. Para melhorar um pouco, o local do encontro seria mais que especial: O show de um de seus maiores ídolos, um show para poucas pessoas que prometia ser um dos melhores shows de sua vida.
Não houve momento, em todo aquele dia, que seu pensamento não tivesse sido contemplado com a expectativa daquela noite: "E se ela não for?".
As horas não passavam. O relógio era o seu maior inimigo naquele dia. O show começaria às 22h e o dia ainda estava claro. Porque o tempo não passa? E se ela não for? Cada segundo era como horas. Sim, o tempo realmente é muito relativo e ele estava comprovando isto naquele dia.
Havia outra coisa em sua cabeça: Ele iria conhecer o seu ídolo naquele dia. Conhecer o ídolo e encontrar Ana... Aquele sim era um dia especial!
O tempo se arrastava. Ainda eram 20h e ele já começava a se arrumar. Cuidava de cada detalhe como se fosse o único, Ele nunca tinha se preocupado tanto com isso. Uma hora e meia depois ele já estava completamente pronto, com as chaves na mão e a expectativa no peito, essa, por sinal, era o maior item que ele carregava naquela noite. Apesar de abstrata, era quase que palpável. Pelo menos ocupava um grande espaço naquela noite, respirar sem senti-la era como nadar sem molhar os cabelos.
Dez horas. Tal qual um soldado exemplar, ele apresentava-se impecável em posição de sentido. A ansiedade o fuzilava por dentro. Seu olhar buscava Ana em todos os lugares, no meio de tantos rostos estaria o dela ali, buscando o seu? Andava vagarosamente como quem espera ser surpreendido. Mas não teria graça se a surpresa fosse esperada. E assim foi.
O tempo passava e nada. A certeza de que ela não viria já era anunciada. Uma espécie de decepção e esperança se entrelaçavam lançando uma dose estafante de sentimentos dentro de si: Ela não vem! A casa estava cheia de outras mulheres. Já se aproximava da meia noite e ela ainda não chegara. Ele não queria ninguém além dela. Tantas mulheres ao seu redor e seus olhares só buscavam uma... Uma única mulher que não estava ali.
De repente seu celular começou a vibrar. Seu coração vibrava tão ou mais intensamente que o aparelho. Era ela. A ansiedade foi tomada por uma sensação momentânea e explosiva de felicidade. Não havia espaço no rosto para o imenso sorriso.
Um leve toque de lábios e um forte abraço. A noite já estaria completa se acabasse ali: O show acabara de começar e ele acabara de encontrar Ana. O show foi incrível, dentre algumas trocas de beijos e carinhos, pequenas e tímidas declarações eufemicas, embora entusiasmadas. A noite estava tão perfeita que ele nem ligava mais se iria conhecer ou não o grande ídolo.
E ela terminaria de uma forma mais que especial, o que selaria o título de "inesquecibilidade" da noite: Os dois juntos, de frente para o mar ao nascer do sol... E no som do carro, o artista lia o seu pensamento: "Estranho seria se eu não me apaixonasse por você...".
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